.Visto-me de instinto. Sem intuito.
Eu não quero tempo. Tão Autofágico como trágico.
Eu quero vento. Neste corpo tão mágico como letárgico.
Eu não tenho intento. O tempo de si mesmo isento.
Eu não quero alento. Quero algum evento.
Visto me de instinto. Sem intuito.
Vestido de noite, de seda, que pende sem prender a pele perfumada.
Eu não quero tempo. Eu quero-me perder na queda, fogo, labareda.
Eu quero ceder à seda e ter sempre sede de mais/demais. Quero tudo o que me embebeda.
Eu quero tudo o que preceda, a altura em que me tornar azeda e tudo o que se lhe suceda.
Eu quero dizer ao tempo desperdiçado que o arruinaria todo uma vez mais. Que por mim não interceda.
Mas eu nunca conheci o tempo, só o momento.
Momento que é fragrância, flagrante, aberrante.
O tempo manchou a seda do meu vestido. tão deslumbrante como deteriorante.
A metamorfose do tempo tornou-o intolerante, distante.
Já o vestido, continua vibrante.
Penduro-o ao vento.
Agora itinerante e esvoaçante.
Voar com ele? Bem tento.
Mas isso, só o tempo.
Então visto-o, de momento. Presente.


